Saturday, February 15, 2014

Com o rosto a este vento

Em 2005 é editado o seu primeiro cd, "Com o Rosto a Este Vento", onde além de se debruçar sobre os cantos de trabalho marítimos, não só dos Açores como americanos e franceses (Santiana, Leva Arriba Nossa Gente, John Kanaka, La fille des sables e Brassons Bien Partout Carrée) retoma a maior parte dos temas gravados no LP Manjericão da Serra.
Na capa, de autoria de Augusto & Judit (seus filho e nora), pretende-se aludir aos seus vinte anos de cantigas (em 2005, já um pouco mais do que isso...) com uma foto a preto e branco, dos seus vinte anos...de idade:
"Com o Rosto a Este Vento" passaria, porém, quase completamente despercebido, até no seu título, onde a intérprete pretendeu homenagear a terra que "como sua terra adoptiva a acolheu e acarinhou" - vila do Nordeste, assim chamada por ter o rosto a este vento (Gaspar Frutuoso).
Victor Rui Dores escreveu, gentilmente, o texto introdutório, onde começa por dizer que "MAE dá voz e expressão à alma de um povo."
 

Década de 90

Em Maio de 1990, e por razões de natureza profissional (preparação do seu doutoramento) MAE fixa residência em Portugal continental, perdendo quase totalmente o acesso às suas fontes de recolha bem como a possibilidade de divulgar, através de apresentações públicas, o seu trabalho. Dão-se entretanto grandes modificações na sua vida pessoal e em 1995 regressa aos Açores, acabando por fixar residência no Nordeste, ilha de S. Miguel. As suas apresentações em público tornam-se raras, limitando-se a dar apoio a grupos locais, como foi o caso do grupo Ventos do Norte, na foto abaixo (festa de Natal dos idosos, Dezembro de 1995):
Canta, no entanto, mais uma vez a convite do sr. Presidente da Câmara, Dr. José Carlos Carreiro, perante o sr. Presidente da República, aquando da visita aos Açores do Dr. Jorge Sampaio, em Julho de 1999:
Agradecendo os aplausos, MAE e o seu bom amigo, mestre e acompanhador sr. Miguel Pimentel.
Participa, com o tema John Kanaka já pertencenteao seu repertório, na investigação e recolhaefectuadas por Ad e Lucia Linkels, musicólogos holandeses com vasta obra sobre as tradiçõespolinésicas. Do trabalho destes pesquisadores surgiria o cd Adeus & Aloha, em 2002:

 
 
O grupo Madrugada da Escola Secundária do Nordeste, de que foi co-fundadora, e em que tentou congregar alunos, funcionários e professores da mesma, acabou por ter também existência efémera - pelo menos, quanto aos objectivos iniciais, derivando rapidamente para outros géneros musicais:
Na foto, o grupo Madrugada participa numa Cantata de Natal, na Vila do Nordeste, já em 2006, no que terá sido a sua última apresentação, pelo menos com a participação de MAE.

Wednesday, February 12, 2014

A recolha (continuação)

Também na ilha de S. Jorge, pôde MAE efectuar valiosos registos, tanto de cantatas como de tocatas típicas, bem como entrevistar construtores de viola (e adquirir uma, que ainda hoje possui...)
Em Santo Amaro: srs. José Soares, tocador e cantador, e sua prima, D. Adelina Soares
Na vila das Velas, a recolectora com um grupo de tocadores e cantadores
Manadas: sr. Gil Marques, tocador e mandador de balho, e sua esposa D. Olívia Brasil Azevedo, cantadeira. No final da gravação, um saboroso lanche é partilhado com os visitantes...
Ainda nesta foto, é de notar a posição típica do tocador de viola, a única possível dado que, no passado, este entrava no balho com os restantes populares, não se colocando à parte como hoje se vê executar habitualmente.
Srs. António Belarmino Azevedo e Francisco de Sousa Rita, este último também construtor além de tocador de viola.
Sempre seguindo o lema de fazer de cada entrevistado um amigo, MAE manteve (e, em certos casos, ainda mantém) correspondência com estes e outros senhores e senhoras, interrompida apenas pelo falecimento dos ditos...
Foliões da Beira, vendo-se os srs. Joaquim Bettencourt Oliveira e Ulmano Borges, entre outros.

Saturday, February 08, 2014

A recolha

Na segunda metade do séc. XX, perante a avassaladora melhoria nas comunicações e o contacto com muitos e diversos outros meios, povos e culturas, era facilmente previsível que o corpo cultural açoriano em breve desapareceria, se não no todo pelo menos em boa parte, e o que dele permanecesse rapidamente se tornaria irreconhecível pela mistura com os elementos "de fora" de que até então os Açores se encontravam bastante resguardados, pela chamada insularidade.
Nas décadas de cinquenta e sessenta muito esforço foi feito no sentido de acautelar as tradições ainda em uso, por vários folcloristas açorianos que, por amor à cultura da terra natal recolheram, estudaram e publicaram. Três nomes se destacaram nessa actividade: o do Padre José Luís de Fraga, tio de MAE, o de Júlio Andrade e o do Tenente Francisco José Dias, mas houve outros; o professor Artur Santos, do Conservatório de Lisboa,  também trabalhou no arquipélago por essa altura, não por iniciativa própria mas por encomenda de entidades oficiais dos então distritos de Ponta Delgada e Angra do Heroísmo; do seu trabalho foram feitas colecções de discos e distribuídos estes por instituições internacionais de carácter folclórico. Acabaria por abranger apenas três ilhas: Santa Maria, S. Miguel e Terceira, num trabalho que com toda a sua importância, é antológico, e isto talvez devido à abundância do material ainda existente na época!
Convencida da necessidade de, além de divulgar as recolhas já existentes e de poucos conhecidas, recolher mais, foi possível  a MAE efectuar algumas recolhas por várias das ilhas dos Açores, lutando porém e sempre com as limitações do aspecto financeiro, dado que sempre correram por sua conta todas as despesas envolvidas.
As recolhas efectuadas por MAE encontram-se sob a forma de algumas dezenas de áudio cassettes com música gravada, que incluem temas das ilhas das Flores, de S. Jorge, de S. Miguel e de Santa Maria. Nunca foi possível à folclorista efectuar trabalho de campo nas ilhas do Corvo, Pico, Terceira, Graciosa e Faial, muito embora esteja na posse de recolhas efectuadas nessas ilhas por outros pesquisadores e que lhe foram enviadas.
Uma recolha tão exaustiva quanto possível, que abrangesse todas as ilhas do arquipélago e que aliasse, preferencialmente, a colheita do som à das imagens em vídeo, pelo esforço tanto financeiro que seria necessário como também em termos de tempo disponível, acabou por não ser feita.
Algumas fotos, obtidas aquando de campanhas de recolha na ilha de Santa Maria:
 Sr. Manuel de Chaves Figueiredo (Manuel Ramalho), tocador de concertina (Feteiras de Cima, S. Pedro)
     Srs. Manuel da Costa (Fonte do Jordão) e António Soares (Calheta)
Sr. Manuel Baptista (Maia)
Foliões (de Santo Espírito) cantando falsetes. Império da Mãe de Deus, Agosto de 1099
 

No mesmo Império: o "briador", com o seu traje típico.

Friday, February 07, 2014

E em Angra do Heroísmo...

...a partir de 1987 (inclusive) foi, por várias vezes, MAE convidada a leccionar assuntos ligados ao folclore açoriano em cursos promovidos pela Direcção Regional das Comunidades, na pessoa do seu responsável de então, Prof. Duarte Mendes, outra das individualidades que muito reconheceu o seu trabalho como folclorista (e igualmente como intérprete, sendo a seu convite que se deram também as apresentações de MAE aos Estados Unidos e Canadá; uma deslocação ao Brasil, várias vezes prevista, acabou por nunca ser possível.)
Curso de Animadores Culturais na Área do Folclore, edição de Agosto de 1989, Angra do Heroísmo. MAE apresenta a sua aula intitulada "Instrumentos musicais tradicionais dos Açores" aos alunos inscritos, entre os quais se encontravam, por vezes, nomes conhecidos dos estudos folclóricos; desta vez, e nas fotos, o Maestro Hélio Teixeira da Rosa, musicólogo de Santa Catarina, Brasil, e o célebre folclorista e cantor Paixão Côrtes, do Rio Grande do Sul.
Nesta foto, MAE exemplifica (usando, desta vez uma viola terceirense de 15 cordas para o acompanhamento) alguns temas folclóricos aos seus dois famosos alunos brasileiros: da esquerda para a direita, Paixão Côrtes e maestro Hélio Rosa.
O professor Duarte Mendes oferecendo uma lembrança a MAE, no encerramento  de um dos cursos com que colaborou.
Gentilmente a Direcção Regional das Comunidades proporcionava também, aos intervenientes nestes cursos belos passeios, numa interessante divulgação turística, dado que muitos dos alunos e monitores não residiam localmente nem conheciam sequer o arquipélago. Na foto, MAE em passeio pela ilha com seu filho Augusto, seu "companheiro de viagem" no curso realizado em Agosto de 1987:

Curso de Dinamizadores Sócio-Culturais (Nordeste, 1988/89)

Um dos Cursos, dos vários com que MAE colaborou, mais interessantes e marcantes (até em termos pessoais) foi certamente o Curso de Dinamizadores Sócio Culturais proporcionado pela Câmara Municipal do Nordeste, ilha de S. Miguel, presidida então pelo Dr. José Carlos Carreiro, uma das personalidades que mais reconheceu e acarinhou o trabalho de MAE - não só como intérprete mas também, e neste caso sobretudo, como folclorista. A seu cargo, nesse Curso, ficou a disciplina de Cantares Açorianos, simplificadamente "Cantares", como consta no programa que foi então distribuído aos alunos:
No encerramento do dito Curso, foram executadas várias das canções aprendidas:
E MAE acompanha à viola, mais uma vez (e segundo a própria) por não haver ninguém que a soubesse tocar...
Alunos e monitores, posando com o sr. Presidente da Câmara:
A forma calorosa e simpática como a "10ª ilha" acolheu então MAE, viria, conjugada com as boas experiências anteriores como intérprete, a ser levada em conta na decisão que tomou ulteriormente, quando, ao mudar de residência, a escolheu para se fixar.
MAE reside no Nordeste da ilha de S. Miguel até aos dias de hoje.

Thursday, February 06, 2014

Aulas de folclore...açoriano

Apesar da sua actividade como pesquisadora e folclorista nunca ter sido tão conhecida como a da interpretação vocal das peças folclóricas, talvez por se tratar de alguém que publicou e publica raramente - e, certamente, por ser a pesquisa tarefa bastante menos visível do que a actuação em palco - mesmo assim MAE foi por diversas vezes convidada para dar cursos, ou colaborar com cursos em que o folclore açoriano fosse importante como disciplina, que foram abundantes sobretudo na década de oitenta do século passado, usufruindo de subsídios da então CEE.
Com as aulas leccionadas MAE pôde transmitir, a grupos por vezes bastante grandes de alunos, tanto locais como da diáspora, por exemplo, a sua visão do folclore musical açoriano, e da forma como deve em seu entender ser estudado, ou seja comparativamente - não só entre ilhas, como também entre ilhas e continente português, Europa e Américas.
Outra importante consequência foi a transmissão aos jovens da necessidade de serem levadas a efeitos mais recolhas, tendo sido conseguido, por vezes, pôr grupos de alunos a fazer trabalho de campo.
No encerramento de um Curso promovido pela Caritas, em Vila Franca do Campo, MAE canta com as suas alunas algumas das cantigas estudadas. Por vezes, de alguns destes cursos foi possível (e em todos tentado) criar pequenos Grupos de Cantares, constituídos pelas alunas ou alunos mais interessados pelos cantos folclóricos. Deste curso saiu, nomeadamente, o grupo que se vê na foto seguinte, a actuar, depois de uma palestra proferida por MAE, no salão nobre da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, em Junho de 1988:

Este simpático grupo viria a ter duração efémera, embora vários dos seus membros se tenham integrado noutros conjuntos e continuado a cantar.

No Natal dos Hospitais, em 1988

O sr. Vítor Cruz, também artista e conhecido entretainer, faz a apresentação de MAE ao público presente:

Wednesday, February 05, 2014

E a convite do sr. Pe. Caetano Flores...

...MAE canta, de novo, na Ribeira Chã, acompanhada pelo sr. Miguel Pimentel e por pequeno coro infantil, constituído pelos seus próprios filhos e pela filhinha do sr. Pimentel:

Quando o menino nasceu
Pra salvar a toda a gente
Uma estrela apareceu
Aos três Reis do Oriente...

Tuesday, February 04, 2014

No lançamento da 3ª edição de O Barco e o Sonho...

MAE lê, perante a assistência, o trabalho de sua autoria intitulado Santiana-até ao Arioucha, e, em seguida, canta a Santiana:
 
E, sempre a convite do seu bom amigo e admirador Manuel Ferreira, autor da célebre narrativa, volta a fazê-lo na Casa dos Açores de Lisboa, perante Natália Correia, e muitos outros:


Monday, February 03, 2014

...e recebendo as felicitações...

...do governante canadiano.

Cantando em Toronto...

...perante o sr. Ministro da Cultura do Canadá:

 

Em Boston...

Maria Antónia Esteves cantando em Boston, a convite da Direcção Regional das Comunidades. Usaria várias vezes este vestido nas suas apresentações; trata-se de uma cópia do vestido que sua avó paterna usou para o baptismo do seu filho mais velho, em 1901.
Ainda a convite da mesma Direcção Regional, sendo na altura responsável pela mesma o Sr. Prof. Duarte Mendes, MAE apresenta um trabalho sobre instrumentos musicais tradicionais dos Açores numa das salas da Universidade de Harvard:

Sunday, February 02, 2014

O Canto do Prisioneiro

O LP Canto do Prisioneiro, saído em 1988, assinala um ponto alto do percurso da intérprete-pesquisadora, sobretudo porque de um dos temas, "Sou Marinheiro", a televisão local realizaria (para poder participar num festival Circomúsica, de televisões regionais) um teledisco, que passaria a exibir com bastante frequência, o que levou (numa época em que a inexistência, no arquipélago, de outros canais visualizáveis - apenas as emissões da RTP nacional, Canal 1, e a RTP Açores eram transmitidas então- e em que era diminuto o número de telediscos de outros artistas açorianos então existente) a que Maria Antónia Esteves e o trabalho por si realizado acabassem por ser ainda mais conhecidos e divulgados em todo o arquipélago, recebendo múltiplos convites para cantar em diversas localidades açorianas, na diáspora (Estados Unidos, Canadá e Brasil) e até em Estrasburgo, este a convite do então deputado europeu Dr.Vasco Garcia.
                  MAE já "com o rosto a este vento" do Nordeste, onde teve lugar a captação da maior     parte das imagens do teledisco.

O seu trabalho como pesquisadora e folclorista, provavelmente por também só poder ser apreciado por uma pequena faixa do público receptor, nunca foi porém tão largamente divulgado e conhecido como a execução vocal dos temas.
Como exemplo, refira-se que a inclusão, neste disco, do tema Nau Catrineta, no sentido de participar nas comemorações  dos descobrimentos portugueses, que na altura se faziam um pouco por todo o país, passaria completamente despercebida, e igualmente a do soberbo tema que dá o nome ao trabalho, Canto do Prisioneiro, onde a folclorista (nos textos explicativos do interior do LP) aborda a questão de como nascerá uma canção folclórica. De igual modo passaram despercebidas as tocatas executadas totalmente em cordas de latão, para que fora encordoada especialmente uma das violas pertencente à intérprete... Sou Marinheiro, peça também de grande beleza e onde foi tomada a liberdade de aliar o violino clássico da profª. Sheeley Ross à tocata de viola - o que terá causado a escolha do mesmo pelos responsáveis da RTP Açores para a participação no referido festival Circomusica, que se realizou no Funchal, viria porém a sobrepor-se a todos os outros temas do LP.

Num ensaio de palco...

...e no dia do Festival.
O facto de se tratar de uma docente universitária em palco a cantar uma canção tradicional, terá causado certo espanto à repórter da TV Guia presente no festival, que a seu respeito escreveria: "ensina Química!!" No entanto, este festival pô-la em contacto com diversos executantes também ligados (em maior ou menor grau) à pesquisa, ou pelo menos à interpretação de música tradicional, como a famosa intérprete búlgara Kalinka Sgourova (na foto abaixo), e dele resultariam vários convites para divulgar a sua música no estrangeiro, nomeadamente da televisão de Sofia.
Maria Antónia Esteves com os búlgaros Kalinka Sgourova, Neno Nenov e Emilia Netcheva, num passeio na Madeira.